quinta-feira, 23 de maio de 2013

Como (não) criar filhos felizes

Passando pela livraria, sem querer (mesmo) esbarrei na sessão de auto ajuda e me deparei com o seguinte título: "Como criar filhos felizes e obedientes?" Não acreditei. Mas não pára por aí, a lista de manuais continua. Cada um para um tipo de filho: inteligente, bem sucedido, basta escolher o seu. E o melhor, tudo pela bagatela de 49,90. Não é fantástico?
Não, não é!

Eu sabia que existiam as cartilhas de "como fazer" com o chefe, com o namorado, com a ex mulher ... mas não imaginava que agora os pais também tinham esse privilégio. Honestamente, não consigo entender como um psicólogo pode escrever isso e uma editora pode publicar.

Mas o questionamento vai além. Eu me pergunto o que esperar da geração que vem aí para ser objeto de estudo prático dos pais. Como será que funciona? Tentativa e erro?
O que esperar de uma geração filha de pais que não sabem mais seguir instintos? Que precisam recorrer aos livros pra tomar uma decisão a respeito de seus próprios filhos? Pais que investem tanto dinheiro em livros, escolas, tecnologia, mas investem tão pouco em desejo?

Todos os dias eu vejo crianças tornarem-se objetos do sucesso pessoal de seus pais. Eu me lembro de, quando pequena, disputar com meus colegas quem tinha o pai mais forte. Hoje, a disputa é inversa. Nas reuniões escolares, os filhos são os novos troféus. Os pais são ótimos em exibir o filho ao mundo, mas são péssimos em abraçar. É a mecanização do amor. E então eu me deparo com crianças cheias de sintomas, ocupadas demais em corresponder às impossíveis expectativas que se colocam sobre elas. Ocupadas demais inclusive para serem crianças.
Nenhum filho jamais deve vir para preencher um lugar tão sufocante.

Sou obrigada a recorrer à minha discussão de sempre: porquê a obsessão com a perfeição? O que há de errado com os bons e velhos erros dos pais que dão aos filhos humanidade e tolerância à frustração? Pais perfeitos acabam criando pobres criaturas que, mesmo adultas, passarão suas vidas buscando a aprovação daqueles para quem nada nunca é suficientemente bom. Não é triste demais?


Crianças não precisam de perfeicão. Precisam de pais felizes.
Felizes, presentes e castrados. E que possam cometer erros em nome do amor.